PLURAL: os textos de Atílio Alencar e Fabiano Dallmeyer

  • Quiroga, um mestre nas margens do realismo fantástico
    Atílio Alencar
    Produtor cultural

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    Horacio Quiroga, escritor uruguaio do início do século 20, é um nome fulgurante entre a linhagem de escribas latinos adeptos de uma literatura sombria e informada por elementos fantásticos, que precederam o boom dos autores sul-americanos na década de 1960. Apesar de nunca ter alcançado o reconhecimento mundial de sucessores ilustres como Borges, García-Márquez e Cortázar - este último assumidamente tributário das narrativas curtas de Quiroga - o escritor exerceu sobre todo o chamado Realismo Fantástico uma influência tão subliminar quanto decisiva.

    Foi um mestre indiscutível na execução da narrativa curta, estabelecendo no exíguo fôlego de meia dúzia de páginas as linhas assombradas por amores trágicos, fratricídios e arranjos sobrenaturais. Leitor devoto de Edgar Allan Poe e de Lewis Carrol, herdou desses a inspiração para o horror e para o enigma, transportando para seu universo particular - eminentemente provinciano, quando não rural - toda a carga supersticiosa que iria encontrar forma em contos como "O arame farpado", "O mel silvestre" e, claro, o clássico absoluto A galinha degolada.

    Em vida, Quiroga foi daquelas personalidades cuja existência quase se confunde com a obra. Sujeito de modos atípicos para a época e para a sociedade que o cercava, desempenhou muito bem o papel de escritor excêntrico e arredio, tendo mesmo optado por abrir mão das comodidades da vida urbana para mergulhar em um retiro bucólico, acompanhado apenas da mulher e filhos, que vivenciaram situações de risco por conta da índole incomum do patriarca. Sua história pessoal foi marcada por suicídios de entes queridos e outros incidentes insólitos, atingindo o grau máximo de traumaticidade no homicídio involuntário do melhor amigo, durante o manejo descuidado de uma arma de fogo.

    Contos de Amor, de Loucura e de Morte, uma compilação de 1917, reúne em 15 contos o essencial da narrativa de Quiroga. Volume breve, mas de intensidade hipnótica, carrega com perfeição a ideia de conto exemplar segundo Horacio Quiroga: conciso, predestinado desde a primeira palavra ao desfecho fatal, despido de emoções desnecessárias e embebido no misticismo da própria escrita. Em algumas edições brasileiras da obra, foi mantido o apêndice com o "Decálogo do Contista", em que Quiroga expõe sua reflexão sobre a arte de narrar.

    Ainda hoje um anônimo para muitos admiradores da literatura latina, Horacio Quiroga instalou-se como uma voz determinante no panorama das letras na América do Sul, fertilizando as gerações que o sucederam. Dele, assim como de seu conterrâneo Juan Carlos Onetti, se embebedaram os textos mais marcantes dos autores responsáveis pela ascensão da América Latina ao posto de celeiro maior da literatura mundial em meados do século passado.



    Novo lockdown
    Fabiano Dallmeyer
    Fotógrafo

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    Portugal está novamente no que chamam de confinamento geral. A vida voltou a mudar, e desde as 00hs de sexta-feira passada, repetindo o que ocorreu em março de 2020, o agravamento da crise sanitária fez com que o Governo restringisse a circulação. Ou seja, a regra é ficar em casa, ou sair apenas para o necessário como comprar comida, ir à farmácia, prestar assistência à família ou passear com animais de estimação, para dar alguns exemplos do que está permitido. O primeiro-ministro português António Costa declarou na quinta-feira que fez tudo o que estava ao seu alcance para evitar um novo confinamento e admitiu que as medidas podem durar mais de um mês, sendo reavaliadas de quinze em quinze dias.

    O país resistiu por algum tempo à segunda onda da Covid19 através das ações tomadas pelo governo anteriormente, como a restrição de horários para circulação e comércio, mas as medidas menos restritivas do Natal estão fazendo efeito agora, em conjunto com um período de muito frio - nevou em cidades que não se tinha registro de neve há mais de 10 anos - faz com que aconteça uma expansão da epidemia. "Não há um julgamento coletivo a fazer. Sabemos todos que vivemos sempre num equilíbrio no fio da navalha: Quando aligeiramos as medidas, aumenta a pandemia; quando aumentamos as medidas, atinge-se duramente a economia. Mas privilegiamos sempre a situação sanitária e agora não podemos hesitar", declarou o primeiro-ministro.

    ALGUMAS REGRAS

    Diferente do primeiro confinamento, todas as escolas ficarão abertas, assim como as creches e os centros de atividades ocupacionais.

    O home office passa a ser obrigatório, sempre que é possível, é claro, e não precisa de acordo entre empregado e patrão. A violação da regra do home office é considerada uma contra-ordenação muito grave. Para as empresas que não cumprirem, a multa pode atingir os 61.200 euros (equivalente a quase R$ 390.000,00 pela cotação do dia em que escrevo essa coluna). O Governo decidiu também duplicar todas as multas para quem não cumprir as regras definidas, incluindo para quem não usar máscara em locais públicos, que passa a ser de no máximo 1.000 euros (ou quase R$ 7.000,00).

    Os restaurantes ficarão abertos apenas para entregas, sendo proibido o consumo no local, nem mesmo em área abertas.

    Um fato curioso é a liberação para celebrações religiosas e também das eleições presidênciais, que acontecem nos dias 17 e 24 de janeiro. Nestes dias, os portugueses podem circular livremente para exercer o direito de voto. Soa familiar, não? Pois...

    Lá em Portugal ou aqui no Brasil, não é fácil lutar contra esse vírus. Certa está a frase com a qual António Costa finalizou uma recente coletiva de imprensa:

    "Para quem não está ao volante, é muito fácil dar palpites.

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